quinta-feira, março 10, 2016

Como deve ser...

 
Duas desembargadoras, dois países e, aparentemente, o mesmo resultado.

A questão aí não é porque uma é negra e foi pobre e a outra filha da abastada elite brasileira com "costas quentes". Nada disto, mas porque, precisamente, uma se esforçou de maneira muito acima da média e a outra, até onde sabemos, não. Quanto se fala em desigualdade, eu gostaria de lembrar, o problema é falso ou mal colocado, pois se ela é econômica retrata apenas um resultado... As causas é que devem ser apontadas para serem justificadas ou acusadas. Alguém deter mais posses como resultado de seu esforço é louvável, não pelas posses em si, mas pelo esforço despendido. AGORA, quando essa desigualdade é fruto de privilégios ou favores, tráfico de influência etc. é, claro, amplamente condenável, pois é o tipo de desigualdade que afronta a principal forma de igualdade defensável, a jurídica, onde devemos (em tese) deter mesmos direitos e deveres. Enfim, parabéns a sul-africana, independente de ser mulher, negra e ter sido pobre, mas simplesmente porque ela é um indivíduo que não deve ter feito de sua condição uma desculpa para auto-vitimização. Simplesmente deixou tudo isto de lado e foi à luta.


A colega Marianna Fux, que tem trinta e poucos anos, se tornou desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Marianna é filha do ministro do STF, Luiz Fux. Sua "sabatina" durou menos de dois minutos (http://jota.uol.com.br/ouca-a-integra-da-sabatina-de-marianna-fux-na-oab-do-rio-de-janeiro). A resposta à pergunta que lhe foi feita (sobre as salas dos advogados nos tribunais) durou cerca de vinte segundos. O tempo restante foi usado para cumprimentar o presidente e o vice-presidente da OAB do Rio de Janeiro, os membros da banca de arguição, os conselheiros, as pessoas presentes e fazer uma homenagem ao avô falecido. Ela também falou um pouco de sua vida. Para isso, gastou, de igual modo, alguns segundos. Situação oposta se deu na África do Sul, com a recente indicação de uma advogada para o posto de desembargadora do Tribunal de Justiça da Província de Gauteng, cuja jurisdição inclui a importante cidade de Joanesburgo. Lobogang Modiba, de 43 anos, falou muito. Casada e mãe de três crianças, ela ficou órfã de mãe aos três anos. Em Alexandra, a township (equivalente as nossas favelas) onde morava, Lobogang lidava com o frio e a falta de eletricidade. Para fugir dos ratos em seu barraco, ela se refugiava na biblioteca local. "Os livros me ajudaram a escapar da miséria", disse. Quando o pai perdeu o emprego, ela começou a trabalhar na Clínica Jurídica de Alexandra. Hoje, ostenta um mestrado em Direito por Harvard, fruto de uma bolsa que ganhou. Sua indicação uniu tanto o país, quanto a comunidade jurídica e a juventude sul-africana cheia de sonhos. Ela tinha experiência como advogada, brilho acadêmico e uma biografia de emocionar. É assim que deve ser! Saul Tourinho Leal
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Fas est et ab hoste doceri – Ovídio


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