Apesar de formalmente romper com o marxismo, grande parte dos estudos pós-modernos mantém os velhos cacoetes de teorias revolucionárias ao enfatizar a imposição de novos objetivos, supostamente, moralmente superiores em detrimento da análise acurada da realidade.
Alguns excertos maravilhosos de um excelente texto:
“Afirmei que a ambição da “ciência social crítica” era ter não apenas uma ciência social guiada por comprometimentos normativos, mas também tornar esses comprometimentos explícitos. O maior problema dos livros que li é que quase que invariavelmente falharam nesta segunda parte. Era óbvio que os autores – com a exceção de uns poucos professores de direito – não faziam qualquer ideia de como elaborar um argumento normativo. De fato, pareciam incrivelmente avessos a sequer alegar claramente que tipo de padrões normativos estavam sendo empregados. O resultado é livros inteiros que têm o objetivo de fortalecer a resistência a coisas como o “neoliberalismo”, nenhum dos quais jamais explicitou o que é tal coisa e muito menos o que há de errado nisso.
“[N]otei há muito tempo que o termo “neoliberal” funciona como a peça mais importante do vocabulário criptonormativo nos estudos críticos. Para quem não sabe, o problema básico com o “neoliberalismo” é o seguinte: se trata de uma coisa inventada. É apenas uma palavra que Foucault popularizou para falar sobre ideias econômicas que não entendia. Não há um grupo de pessoas por aí que efetivamente se descrevam como neoliberais. Por conta disso, não há limites para o que o termo pode referir, e não há ninguém para responder a qualquer das críticas que lhe são feitas. Compare-se isso com termos como “conservador” ou “libertário”. Porque há pessoas reais que se auto-intitulam “libertárias”, se você escrever algo que critica o libertarismo, um libertário de verdade pode escrever de volta e contestar o que você disse. No caso do “neoliberalismo”, por outro lado, você pode dizer o que quiser sem medo de que um neoliberal da vida real escreva de volta e conteste as suas alegações – porque não há qualquer um. Como resultado, as pessoas que usam esse termo na sua escrita estão basicamente anunciando, de antemão, que a sua audiência pretendida é a câmara de eco da esquerda acadêmica. Afinal de contas, se quisessem se engajar em debates com as pessoas fora dessa câmara, teriam que se direcionar a uma ou mais das ideologias que são efetiva e conscientemente adotadas por pessoas exteriores a ela. (A este respeito, as pessoas que criticam o neoliberalismo são os leões covardes da academia. Se você acha que tem coragem, por que não sair e encontrar alguém verdadeiramente de direita para debater?)
“A ironia, é claro, é que, porque os seus praticantes não parecem saber como elaborar argumentos normativos, os estudos “críticos” acabam por ser incrivelmente dogmáticos. Os estudantes devem considerá-las completamente desconcertantes. Embora supostamente estejam sendo ensinados a “pensar criticamente” sobre o mundo, são muito enfaticamente desencorajados de pensar criticamente sobre o que está sendo dito nos livros que se propõem a ensiná-los a pensar criticamente sobre o mundo.
“Não é assim – repita-se – que a teoria crítica deveria ser feita.”
Joseph Heath
Revisão de Desidério Murcho. Publicado originalmente no blog In Due Course.
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